Corpas-Negras: Arquivo Infinito parte da apropriação de fotografias de “tipos raciais”, utilizadas como evidência científica antropológica da inferioridade ontológica de pessoas negras, escravizadas, no século XIX. Concentrei-me nas fotografias feitas por August Sthal, no Brasil, no âmbito da Expedição Thayer, organizada pelo naturalista suíço Louis Agassiz [1807 – 1873]. As fotos foram cedidas pelo Peabody Museum of Archaeology and Ethnology – Harvard Institute, administrador do arquivo fotográfico de Agassiz.
Busco simbolicamente libertar essas corpas dos textos que as aprisionam até hoje no arquivo do museu e escrevê-las em outros, verbo-visuais, que as dignifiquem como seres cósmicos que são, de potência e existência infinitas. Reconheço em minha carne, em minha pele, a força vital dessa ancestralidade, honrá-la é a justiça que posso oferecer.
Para isso, faço seis fotocolagens dessas corpas junto ao cosmo e a elementos que reconheço como de propriedades curativas da praia e das plantas em formato de cartes-de-visite (essas imagens eram colecionadas nesse formato no séc. XIX). No verso de cada imagem vem escrito uma oração: Crer.
Em outro momento, assumo a posição de nu frontal a que essas mulheres foram submetidas e as incorporo em minha imagem, num gesto de reconhecimento, proteção e recusa ao olhar objetificante do espectador.
Por último, me cubro com um manto em memória dessas vidas anônimas que sonharam com a minha existência livre hoje.