A fotografia, assim como o Narciso, encontra-se presa na sua própria imagem, sem advertir que ao ficar assim, no próprio reflexo, atinge a morte, aquilo que, por sua vez, é a essência que lhe dá vida: um reflexo morto de uma realidade viva. Esta contradição é, por sua condição de ausência pura, vida e morte num presente que já não é mais e permanece como constância do reflexo e de sua fascinação.
Esta série é uma metáfora da fotografia como reflexo da realidade pós-moderna que vivemos. A obsessão com a própria imagem e as projeções de ídolos com os quais nos identificamos, é a mesma obsessão da qual padece Narciso, ao se olhar refletido nas águas cristalinas do lago. Esta procura de falsas ilusões, legitimação da superficialidade e a impossibilidade do amor nesse tempo, é a reencarnação de Narciso, convertida na sociedade do consumo e do culto da imagem superficial.